Palestinos participam de manifestação contra guerra em andamento na Faixa de Gaza e a política de fome imposta aos moradores de Gaza, na cidade de Nablus, na Cisjordânia, em 29 de julho de 2025. (Foto por Nidal Eshtayeh/Xinhua)
Analistas veem esse movimento como uma tentativa deliberada de reativar um processo de paz estagnado, há muito controlado por Israel, Hamas e Estados Unidos, todos os quais, segundo eles, demonstraram pouca disposição para chegar a um acordo.
Beijing, 1 ago (Xinhua) -- A conferência das Nações Unidas (ONU) sobre a solução de dois Estados encerrou seu debate geral na quarta-feira, em meio ao crescente apoio internacional ao reconhecimento oficial do Estado da Palestina.
O aumento das mortes civis e a piora das condições humanitárias em Gaza estão levando mais países ocidentais a apoiar o reconhecimento do Estado da Palestina. Quais países lideram essa mudança e por quê?
QUEM ESTÁ APOIANDO?
Em 24 de julho, o presidente francês, Emmanuel Macron, declarou que a França reconhecerá formalmente a Palestina na Assembleia Geral da ONU em setembro, tornando-se o primeiro país do G7 a tomar essa iniciativa.
"A necessidade urgente hoje é acabar com a guerra em Gaza e resgatar a população civil", publicou Macron na rede social X. "Precisamos construir o Estado da Palestina", disse ele.
Downing Street emitiu um comunicado na terça-feira pedindo ações "imediatas e concretas" para amenizar o desastre humanitário em Gaza. Caso contrário, o governo britânico reconhecerá o Estado da Palestina em setembro para "proteger a viabilidade da solução de dois Estados".
Criança palestina recebe comida gratuita de cozinha beneficente na Cidade de Gaza, em 24 de julho de 2025. (Foto por Rizek Abdeljawad/Xinhua)
O primeiro-ministro canadense, Mark Carney, anunciou na quarta-feira que o Canadá também planeja reconhecer o Estado da Palestina em setembro. "Essa intenção se baseia no compromisso da Autoridade Palestina com reformas urgentes", afirmou o comunicado.
A conferência de alto nível da ONU sobre a solução de dois Estados foi concluída na quarta-feira em Nova York, após debater caminhos para implementar a solução.
O representante de Malta afirmou na conferência que seu país poderá reconhecer formalmente o Estado da Palestina em setembro, chamando isso de "passo concreto rumo a uma paz justa e duradoura".
Portugal, por sua vez, juntamente com outros países, reavaliou a questão e as condições para reconhecer o Estado da Palestina durante a reunião.
"Com base em diversos contatos, foi possível concluir que muitos dos países com os quais Portugal tem coordenado posições sobre o tema mostram disposição para iniciar o processo de reconhecimento do Estado da Palestina", dizia o comunicado.
Após a reunião, 15 ministros das Relações Exteriores assinaram uma declaração conjunta, afirmando que considerarão o reconhecimento formal do Estado da Palestina na próxima Assembleia Geral da ONU.
POR QUE AGORA?
A decisão da França sinaliza um rompimento com a postura anterior da Europa. O jornal francês Le Monde noticiou que o ponto de virada foi a prolongada ofensiva israelense em Gaza e as restrições à ajuda humanitária, agravando a fome e o sofrimento civil.
As operações militares israelenses em Gaza desde outubro de 2023, desencadeadas por um ataque fatal liderado pelo Hamas contra Israel, resultaram em mais de 59.210 mortes de palestinos e mais de 143.040 feridos, informaram autoridades de saúde de Gaza em 24 de julho.
Homem carrega corpo de vítima após ataque aéreo israelense na área de Tel al-Hawa, Cidade de Gaza, em 23 de julho de 2025. (Foto por Rizek Abdeljawad/Xinhua)
Também foi informado na quarta-feira que o número total de mortes relacionadas à fome e desnutrição havia subido para 154 em Gaza, sendo a maioria crianças.
Apenas um dia após o anúncio francês, Macron, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, e o chanceler alemão, Friedrich Merz, exigiram um cessar-fogo imediato em Gaza e pressionaram Israel a suspender as restrições à entrada de ajuda humanitária.
"Israel deve cumprir suas obrigações sob o direito internacional humanitário", dizia o comunicado.
A decisão britânica ocorre em meio à crescente pressão interna, com mais de 200 parlamentares de nove partidos pedindo a Starmer e ao secretário das Relações Exteriores, David Lammy, em uma carta na sexta-feira passada, para reconhecerem o Estado da Palestina imediatamente.
O Reino Unido tem o dever moral de preservar as perspectivas de paz, por seu papel histórico na Declaração de Balfour de 1917, disse Lammy.
O fracasso das negociações de cessar-fogo, a fraca diplomacia americana e a votação simbólica de anexação da Cisjordânia por Israel convenceram Paris e Londres de que as abordagens tradicionais de mediação falharam.
Adel Bakawan, pesquisador do Instituto Francês de Assuntos Internacionais e Estratégicos, disse que a França está aproveitando uma "janela de oportunidade política" em meio ao enfraquecimento da influência regional dos EUA. "A França está oferecendo uma visão alternativa", disse ele.
Analistas veem esse movimento como uma tentativa deliberada de reativar um processo de paz estagnado, há muito controlado por Israel, Hamas e Estados Unidos, todos os quais, segundo eles, demonstraram pouca disposição para chegar a um acordo.
COMO O MUNDO VÊ ISSO?
Em resposta ao anúncio de Macron na semana passada, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que essa medida "recompensa o terrorismo e envolve riscos". "O Estado da Palestina nessas condições seria usado como base para destruir Israel, não para viver em paz ao seu lado", disse ele.
Foto divulgada pelas Forças de Defesa de Israel em 5 de julho de 2025 mostra tropas israelenses operando na Faixa de Gaza. (Forças de Defesa de Israel/Divulgação via Xinhua)
Mas a última conferência da ONU em Nova York mostrou que Israel está cada vez mais "em uma posição isolada", disse o ministro das Relações Exteriores alemão, Thomas Wadephul, na quinta-feira, ao pressionar Israel a agir em relação à "incompreensível" crise humanitária em Gaza.
O presidente dos EUA, Donald Trump, condenou a medida francesa, dizendo que ela "não tem peso". Também classificou como "perigosa" a intenção do Reino Unido de reconhecer o Estado da Palestina.
Enquanto os Estados Unidos mantêm sua posição de que a criação de um Estado da Palestina exige negociações diretas com Israel, agora mais governos adotam o reconhecimento como alternativa prática.
A União Africana (UA) elogiou no sábado o anúncio da França de reconhecer oficialmente o Estado da Palestina, chamando-o de um "passo significativo" alinhado à posição histórica da UA.
O presidente egípcio, Abdel-Fattah al-Sisi, descreveu na quarta-feira a intenção britânica de reconhecer o Estado da Palestina como um passo rumo ao avanço da solução de dois Estados.
"Valorizo muito as declarações do primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, sobre as intenções do Reino Unido de reconhecer o Estado da Palestina", disse o presidente.
Em comunicado emitido na quinta-feira pelo Ministério das Relações Exteriores dos Emirados Árabes Unidos, o ministro xeique Abdullah bin Zayed Al Nahyan afirmou que o reconhecimento internacional da Palestina pode fortalecer as perspectivas de uma paz duradoura e contribuir para a estabilidade regional de longo prazo.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, também expressou na quinta-feira forte apoio aos esforços internacionais para reconhecer o Estado da Palestina, afirmando que os recentes avanços na Europa foram "muito valiosos".
"Aceitamos com satisfação cada passo rumo ao reconhecimento do Estado da Palestina. Consideramos as crescentes reações humanitárias da Europa muito importantes", disse Erdogan.